sábado, 24 de maio de 2008

POESIA DE SANDERSON NEGREIROS

ODE DE SOMBRA
Para Elinor
I
Lembro-te pequena menina de vermelho
pulando a ponte das rosas comoventes
e cantando, de cântaro ao ombro, a límpida
beleza das tardes e das fontes
de há muito fenecidas nas raízes do vento.
II
Neste secreto bosque jazes inutilmente
levitada, sem gesto de amor, esquecida
de que um amigo umedeceu teu espaço de morta
e completamente voltada para si mesma,
entregue a um sonho.
III
Vês que no teu corpo já se desfazem
os velhos cemitérios da madrugada
e, por ele, ascende o lamento
das virgens da alvorada.
Te peço os véus de carne que te enfeitam
para que os pássaros se aninhem nos pequenos túmulos
e os gatos tragam a noite no olhar.
Para que os cavalos marinhos não
desabem no crepúsculo, ardendo em chamas.
E teus seios avancem sobre os jardins suspensos
onde as palmeiras abrem de suas folhas
os violões que dilaceram os paredões do mundo.
Tenho saudades das quilhas velozes,
das astrais bebidas e das fiandeiras fatais.
Por que eu passo e não me chamas
ao teu leito de virgem?

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